As crônicas do Guardião - Despertar

Chuva

Início do ano.
A margem eu me deito.
Rio Antípoda, rio que passa na Capital, do lado oposto ao Canal Chambordoux.
E eu a margem, a margem do esquecimento ferido sujo de lama, perdido.
Perdi, perdi filho, perdi meu amado filho, perdi minha esposa e com ela minha filha, que crescia no ventre de Mary.
Perdi minha casa, perdi minha crença, perdi minha confiança. Não existe um guardião que nada guarda. A margem… Ainda consigo olhar e ver do túmulo que eu saí. Porque? As marcas de feridas no meu peito se fecham, eu fui rejeitado. A minha crença me rejeitou, a minha fé não me salvou. No que crer então?
Mary dizia que eu nunca desistia. Mas eu estou perto disso.
Com minha espada atravesso meu peito procurando a morte. Caio desmaiado novamente.
Acordo com uma dor insuportável no peito, retiro a lâmina. E mais uma vez eu fraquejo, procuro o fim sem poder encontrá-la.
Um amaldiçoado, amaldiçoado pelo Uno, amaldiçoado pelos Deuses, amaldiçoado pela vida. E a única coisa que me resta e o chão de Chambordoux.
Rumores da guerra pairam. Eu não queria estar nela. Eu queria estar com minha família, eu queria voltar a ser o guardião.
Chambordoux precisa de mim?

Um ser em forma de sombras sai dentre as árvores, ele tem em seu rosto uma máscara prateada, suas mandíbulas está coberta de sangue, em sua mão direita porta uma espada que está envolta em sombras. Suas vestes são trapos negros que se mesclam a escuridão de uma noite sem lua. Vindo em minha direção com uma sede de sangue insaciável, vem se ter comigo. E com o brandir da lâmina aquele monstro me atinge, me feri. É a primeira vez que vejo um deles.
Chambordoux precisa de mim, Chambourdoux precisa do Guardião.