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Relato - Noite das Mil Faces por Thaís

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Mensagem por Thaís Qui Set 28, 2017 6:15 pm

Prólogo

No escuro e nas sombras se encontram todos os errantes, os mortos, mas também os vivos. Aqueles que atendem aos chamados dos sonhos são ali bem vindos. As conversas da fogueira são jornadas da alma em busca de um elo perdido. As memórias são lembranças dos sentimentos e não diálogos escritos.

Ele gostava dela, ou pelo menos assim dizia. Mais temia do que gostava ou não teria perguntado o que a derrotava. Drake e Dahlia não trocaram olhares assustados, mas cúmplices. Sem surpresas, sem impacto, algum pesar, talvez. Não sei de qual lado. Com calma responde que não sabe, e que se há alguém capaz de responder a tal pergunta é aquele que ela mais ama.


Parte 1
Ela estava vestida de Dahlia. A Flor que não está nos livros, não tem gravações, tampouco está nos cadernos. Dizem alguns que manuscritos dela foram encontrados. Manuscritos estes sem intermediários. Feitos pela própria Dahlia, em tinta e pena, no furor de suas emoções tempestuosas. Outros rumores dizem que existe o texto primordial dela. Aquele que deu origem a sua vida, pois é assim que personagens nascem. Em uma conversa de bar ou de travesseiro cuja ideia vai se concretizando com um prelúdio de meia página digitado em um computador caseiro.
E agora lá estava ela. Em marrom e Flor. A blusa de couro de um ombro só, a saia, o pêndulo, a varinha, o selo.  O Espelho. Dentre todas as outras personagens era a mais excluída. Refletia sem filtros os medos, anseios e limites da própria criadora. Pudera, era a primeira. Sentia a rejeição de sua mãe e se achava culpada por nunca conseguir agradá-la o suficiente. Você já deve ter ouvido uma história parecida.

Mas esse não é um conto só sobre a Dahlia. Esta noite única revela todos que carregamos em nossas lembranças. E principalmente todos que os outros carregam nas lembranças deles sobre nós. Assim, aqueles amigos reunidos sob a escuridão da lua nova prometeram ser quaisquer nomes pelo qual eles fossem chamados. Foi denominada então A Noite das Mil Faces.


Última edição por Thaís em Sáb Set 30, 2017 1:51 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Thaís Qui Set 28, 2017 6:17 pm

Parte 2
Ela estava vestida de Dahlia. Havia descoberto uma razão para estar ali com uma clareza que lhe era rara. Com sua pupila, Regina, tramaram um grande plano para enfrentar o último dos celestiais. Este em especial tinha um histórico enorme de maldades com as discípulas do Véu, somado a outro colossal de enganar quem quer que fosse. Safira, filha e aprendiz de Regina, compactuava dos conhecimentos secretos que dariam cabo do plano e envolveria a todos ali presentes.

Elas enxergavam além do véu. Cada uma a sua maneira conhecia algo sobre os diversos mundos que as rodeavam. Receberam a Noite das Mil Faces como um bom presságio e oportunidade única de retirar de seu inimigo, o famigerado Alatriste, todos os seus poderes. Não mais truques mentais, memórias trocadas, mentiras disfarçadas em histórias bem contadas.
“Regina,” - a voz de Dahlia oscilava entre a razão de uma resolução importante e a loucura de quem já não devia estar ali - “não há lugar a salvo que possamos sequer trancar Alatriste.”. Enquanto Dahlia vagava em ideias, sentimentos e impressões Regina se atinha aos aspectos práticos. Desde antes de qualquer contato aprofundado com o véu as duas equilibravam bem seus aspectos sonhadores e pragmáticos. Com a guerra e outros conflitos recentes tendo interrompido o fluxo de sua amizade elas estavam felizes de estarem juntas novamente debatendo em sinergia. “Se não pudermos matá-lo, podemos baní-lo. Tenho a chave agora! Faremos isso funcionar!” “Mas Krisna conseguiu fugir de um banimento, o que Alatriste não fará?”.
Foi nesse clima que eventualmente traçaram o plano. Alatriste precisaria ser enfraquecido, seu parceiro anulado da melhor forma possível. Qualquer pessoa capaz de segurar uma arma ou entoar uma magia deveria fazê-lo. E talvez com uma ou outra exceção esse parecia ser o desejo do grupo que lá estava reunido. O resto era com elas. A partir de então seria uma questão de tempo para se protegerem e articularem o que fosse necessário. Não seria um Banimento qualquer.

Em uma situação dessas pequenos detalhes importam e os mecanismos de segurança vão além de uma armadura e um escudo. Percebendo a regra do jogo naquela noite, aquela que trás para o círculo mágico o nome invocado, tomam uma decisão rápida. “Precisamos nos manter em nós mesmas, Dahlia, se quisermos que este plano funcione. Tenha certeza de passar por mim e chamar pelo nome sempre que possível.” Os vocativos se tornaram essenciais para que elas se mantivessem em jogo. “Regina, a gente tem que estender isso para outras pessoas que confiamos. Falarei com Takahashi para que faça o mesmo. Fale com Safira e vamos nos encontrar em breve.”

Me parece mais simples traçar a história de um personagem em uma situação dessas. Porém, espero que você não tenha esquecido que por mais que eu queira contar como a Dahlia teve um fim, ela não estava só.
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Mensagem por Thaís Qui Set 28, 2017 7:09 pm

Parte 3
Ela estava vestida de Dahlia, mas se chamava Miranda. “Mãe!!” Era a voz preocupada e enérgica de sua recém encontrada filha. Miranda não se lembrava exatamente como ela tinha ido parar ali na frente de Talita. Contudo a Sacerdotisa do deus Uno se adapta e responde rápido às situações. O como ou porque era menos importante do que o que precisava ser feito no agora. Se fosse Dahlia estaria procurando respostas, quaisquer que fossem. Porém Miranda olha ao seu redor e identifica Max, Vermelha, Mestre Jonas… Retorna em fim para aquela figura segura e resoluta da qual sentia orgulho. Um orgulho indevido, considerando que conhecia e participara tão pouco da vida da filha que até a poucos dias atrás nem sabia que ela estava viva. Mesmo assim o carinho na voz de Miranda surpreende a ela própria, sempre acostumada ao perfil austero e autoritário “Minha filha, você está bem?” “Não, mãe, nós precisamos agir. Eu preciso de um pouco do seu sangue!” A mão estendida segurando um frasco vazio de poção. Não importa o quão distante estivessem tido, a jovem tinha a quem puxar. Mas Miranda estava acostumada a mandar e não a ser mandada. Com o afeto característico da Mãe busca as motivações de Talita. “É para Zafir! Destruíram a cidade dele e agora ele precisa recuperá-la!”. A mão ainda estendida e agora também impaciente. Nos pensamentos de Miranda uma frase ecoa: “Sangue e mais nada serão inimigos”. Ela sabe que há algo errado naquilo. “Talita, não podemos fazer isso sem analisar direito a situação. Acredito que este não seja o caminho.” Ser cuidadosa e ponderada quando conveniente. Essa era Miranda. E se retirou, havia algo a ser resolvido com Max.

“MAX!”
“Elise.”

Se Miranda já havia percebido o padrão de acontecimentos entre aqueles diversos personagens presentes, não sei precisar. Mas a resposta de Max não só a pegou desguardada como modificou a si própria, assim como qualquer outro vocativo que sua Arcana já havia vivenciado faria. A transição não precisou ir longe. Elise é o nome de berço de Miranda.
Para quem não sabe, era costume dentre as sacerdotisas do Uno escolher um outro nome para si ao chegar no mais alto posto hierárquico. Isso deveria representar a abnegação de favoritismos e privilégios para então assumir a devoção total ao Uno na face da Mãe de todos, e não só de seu próprio nicho. Há quem diga que para Elise e Miranda, o tiro saiu pela culatra. Por isso o impacto quando a voz altiva e certeira de Max a atinge.
“Elise.”
Elise foi uma criança doce e bondosa. Para quem a conheceu é difícil acreditar nos rumores sobre Miranda.
E agora cá estava ela novamente. Seus ombros relaxados, a dureza do rosto substituída pelo ar de confusa incredulidade, como alguém que se lembra de uma noite de bebedeira.
“Max, o que eu tenho feito? Como isso tudo foi acontecer?”
Ele sabia que ela se referia aos massacres, abandonos e ardilagens, porém, mesmo assim, a postura de general cedeu ligeiramente para uma paternal e acolhedora (mas não menos intensa), refletindo a saudade que ele sentia daquela que por muito pouco ele não chamava de filha.
“Você precisa ser Elise! Deixe o resto de lado, lute para ser isso! Você não precisa fazer aquelas coisas, não se transforme naquilo, Elise.”.
A perplexidade e o abalo de Elise a paralisaram quando levaram Max embora.
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Mensagem por Thaís Qui Set 28, 2017 8:25 pm

Parte 4.1
Ela não apenas não estava só como parecia crescer em consciência cada vez mais sobre as outras existências que havia dentro de si. Assim como temos a vaga lembrança de um sonho: sabemos que o tivemos, embora não consigamos ser capaz de contá-lo. Mas Dahlia vislumbrou, da mesma forma que Iparunu o fez quando chamou pela intercessão de Miranda, o conhecimento útil que cada versão de si mesmo traria.
Por mais que aquele corpo oscilasse entre tantos nomes, o da Arcana inclusive, o plano para Dahlia manter-se neste mundo estava dando certo. Chamou pelas discípulas do véu para um ritual. Se tinha alguma coisa que a deixava feliz em fazer e espantava seus medos e inseguranças era isso. Da magia tradicional os rituais eram a forma mais liberta da trama. Apesar disso a voz de Dahlia estava cheia de excitação. Falava rápido e inconstantemente.
“Eu a chamarei por seu outro nome! Ela irá nos contar aquilo que você não sabe, mas ela sim! Te trarei de volta, Regina, e contarei tudo o que ela tiver me contado. Faremos isso com todas e teremos todo conhecimento possível para seguir com o plano!”
A ideia atraiu o olhar curioso daqueles que estavam próximos. E ajuda veio da pessoa que eu mais esperava. Dahlia. Que Dahlia mais esperava.


Última edição por Thaís em Sáb Set 30, 2017 10:09 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 10:09 am

Parte 4.2

Era incrível a capacidade da maga de gerar um problema e ignorar coisas importantes. De fato, é o que todos acabam fazendo eventualmente. Ainda mais na posição em que eles estavam. Ela já havia perdido dois filhos, controlada mental e psicologicamente, viu seu marido morto e vivo ao mesmo tempo, foi separada brutalmente dele, matou a quem gostava, foi traída, abandonada para morrer, rejeitada pela própria mãe, vendida pelo pai. Não é de se estranhar que ela achasse que tinha causado muitos problemas. Era um peso que ela não podia suportar.

Essa ajuda que ela recebeu pode ter parecido uma ajuda na hora. De todas as coisas que ela se culpava, talvez apenas as que ela não via fossem realmente culpa dela. Se ela tivesse ouvido Liang desde o início... bom, provavelmente essa não seria a história dela.

Liang estava lá. O reencontro com seu marido depois de uma guerra de separação foi o mais caloroso e esquisito que a situação poderia oferecer. Eles se amavam legitimamente. Queriam o bem um do outro, porém escolheram caminhos diferentes para seguir. Liang buscou a Lei, o ciclo, Dahlia queria queria quebrar até mesmo as leis que não conhecia.

Ainda assim, diante de todos os olhares curiosos ao redor daquele trio sentado ao chão falando sobre revelar os grandes segredos de cada uma e motivadas pelas paranóias de suas vivências elas não queriam ouvintes. Não confiavam em ninguém. É assim que Liang as ajuda, com uma barreira bárdica de silêncio. Elas esperavam a ajuda de todos no plano, mas não confiavam em ninguém. Pois é.

Tudo isso acaba sendo quase irrelevante. Apesar da ideia de compartilhar memórias do jeito mais tradicional possível, contando histórias, ser algo realmente pertinente ao momento, os acontecimentos externos àquela pequena bolha não param. Dahlia vê sua ansiedade crescendo, não dará tempo...
“Eu preciso do espelho, do véu! !! Não há outro jeito!!! Não podemos ficar sentadas conversando a noite toda!!” Ela via no véu a solução rápida necessária para um mesmo objetivo. O pequeno espelho sempre pendurado em seu pescoço seria o foco. Qual objeto poderia ser melhor para ajudar a enxergar a nós mesmos?
Todas as vozes ao redor se afastam e distanciam em um tipo de botão que controla o volume do mundo. O espelho reflete a face dela. Há uma perturbação ao redor, todavia o barulho interno é maior. As palavras saem sussurradas porém certeiras.
“Eu estreito o Véu!”
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 10:58 am

Parte 5

É difícil olhar para sua própria alma quando você é só você. Mas é impossível não se ver quando se é múltiplo. O complicado então é ter essa visão de quem se é e aceitar que aquilo. também . é . você.
Para quem viu só a Dahlia isso pode ter acontecido em poucos minutos, até segundos. Não se enganem. Para quem cruzou o Véu das realidades o processo pode ter sido tão demorado quanto anos ou vidas, dependendo de quantas camadas da percepção dos mundos foram cruzadas.
Não foi a toa que a maga temeu o Véu por maior parte do tempo de sua existência individual. Essa magia selvagem, da forma que ela aprendeu diretamente de seu criador, Vitus, expulsa do círculo mágico aqueles que desafiam o próprio Princípio do Contrato. E por mais que Vitus fosse desejoso de uma escola que equilibrasse essas forças antagônicas, isso estava além do papel que Dahlia tinha a desempenhar.
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 12:25 pm

Parte 6

Ela estava vestida de Dahlia. Mas era muitas. Mais intensamente do que nunca. A mente centrada e treinada da Mestre do Véu filtrava de forma quase automática o que deveria permanecer ativo e o que deveria guardar. O olhar radiante para Regina, o Verde, Safira e para tudo e todos ao redor. Por um breve momento a ternura estendida para todos os presentes: aliados e inimigos pois ela via a trama dos vínculos de amizade que amarrava a todos naquele local.

‘Sai daqui!! Agora! Eu não confio nele, Liang!!” A voz forte e raivosa de Regina e o que se sucedeu ancorou Dahlia nos problemas daquele mundo. Regina se referia ao Mapeiro, que o próprio Liang tinha ido buscar assim que viu a mulher que ele amava se matando mais um pouco ao estreitar o véu. Aparentemente Liang ignorava que elas haviam sido roubadas, ludibriadas e aprisionadas na Zona Fantasma pelos integrantes do Catarse . Com a insistência cínica do Mapeiro no local tentando prover algum tipo de explicação se ouviu uma Regina inflada e decida dizendo
“Apolo de chamas coroado, eu invoco o teu fogo para que meu inimigo seja queimado!! BOLA DE FOGO!!”
A confusão que já não era pouca aumentou. Uma goblim se intrometeu defendendo o Mapeiro, Liang também tomou partido dele e até as coisas se acalmarem muita faísca saiu.

Eventualmente o inimigo em comum os uniu, eles dependiam uns dos outros.
As discípulas do véu tinham um plano. Um que fosse derrotar Alatriste, o Ardiloso. Por mais que Dahlia  agora também vislumbrasse a crueldade do plano, a sua presença  era forte de novo naquele corpo. As possíveis consequências das suas ações estavam nubladas e não a impediriam de fazer o que deveria ser feito.
As articulações estavam em andamento, agora era só uma questão de tempo.
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 3:38 pm

Parte 7

O plano corria por entre as pessoas dividindo opiniões, ao menos apontando uma direção, ou assim elas esperavam. Drake se aproxima de Dahlia decidido a convencê-la do contrário. O tom quase pesaroso em respeito ao seu amigo, Liang.
“Eu sei do sofrimento que você causou a você e ao Liang. Isso foi o véu. Ele não é o caminho, você deveria estar lá, ao lado dele. Ele concorda comigo, você sabe!”
Liang nunca tinha compreendido o véu, mas por amor e a pedido da própria esposa respeitava a decisão e individualidade dela. Por mais resoluta que a maga estivesse ela não podia negar a verdade das palavras dele. Regina surgiu antes que Dahlia pudesse processar o pedido de Drake. Nenhum dos dois homens compreendiam o véu, tampouco viam como ele era essencial para aquela conclusão. E isso se comprovou conforme Drake insistiu enfaticamente.
“Você devia ter abandonado isso.Quer ver?!”
Em pose imponente, pulmões cheios, grita para que todos pudessem ouvir, imitando inconscientemente a maneira de Vitus.
“EU ESTREEITO O…….!!”

O campo ficou em silêncio, as respirações presas, o ar pesado, sendo os únicos ruídos provenientes das espadas sendo desembainhadas.
“As pessoas temem o véu. Viu o que acontece quando alguém tenta usar? É ISSO QUE ACONTECE!” A mão apontando para todos ao redor ainda confusos sobre o que havia acontecido, ou mais precisamente, deixado de acontecer. “E EU NEM PRECISEI TERMINAR DE FALAR!!”
Essa discussão era inútil nenhum lado iria ceder.


Última edição por Thaís em Sáb Set 30, 2017 11:38 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 5:32 pm

Final

Ela ainda estava vestida de Dahlia. Em marrom e Flor. A blusa de couro de um ombro só, a saia, o pêndulo, a varinha, o selo.  O Espelho.

A ansiedade crescente em conjunto com uma resolução que não era sua. Os laços com Regina mais vivos do que nunca, uma sinergia rara e profunda. Mas ela já não era deste mundo.

Drake não havia desistido. Apareceu incorporado com uma verdade necessária. Não naquela hora. Fora muito precipitado mas foi assim que aconteceu.
De tudo o que ele lhe disse, ouviu apenas o que queria e levou as consequências ao extremo.

...

Postou-se a frente da pupila. De mãos dadas e apertadas para que sentissem o calor e realidade concreta daquele momento. O gatilho havia sido ativado. Não foi uma arma, uma espada ou uma magia que o provocaram.  
“Regina, chegou a hora.” Os olhos delas marearam.
“Não, não, não!!!! Ainda é cedo!! Não terminamos!!” A dor em sua voz podia ser sentida no coração de quem estava próximo.
Dahlia olhava para a pessoa completa, além das máscaras e a mensagem era para todas aquelas personagens, mas principalmente para a Arcana que conduzia aquela dança.
“Você me deu suporte quando falhei, me incentivou e levantou. Sempre esteve ao meu lado e agora você está mais do que pronta. Deve voar sozinha. Levar o que começamos aonde eu não consigo alcançar, mas você sim!”
Dahlia  serena e resignada buscava acalmar e a turbulência e incredulidade de Regina. Em um abraço caloroso sussurra em seu ouvido palavras de amor e amizade.
“Olhe para trás e veja como estamos! Alegre-se, querida, pois eu finalmente tenho o que precisava. Eu vou com completa confiança em você sobre o nosso legado”.
A alquimista olhava com lágrimas nos olhos, cheia de revolta, saudade, raiva, frustração... Ela já sentia o descolamento de sua mestra e vinha passando a noite inteira sendo o seu escudo.  Apesar de estar se preparando para o fim inevitável, na cabeça de Regina sua partida foi precipitada, viu seu plano contra Alatriste ruir, a expectativa de trazer justiça a um alto custo do esforço e sacrifício delas se dissipar no ar. Essa era a desculpa dada, porém para quem fica toda partida é precipitada. Não existe preparo o suficiente nos mundos que retire a dor de uma despedida, nem mesmo na ficção.
Olha que ela já havia visto muitas mortes. Corpos atingidos em batalhas sangrando tanto a um ponto além de seus cuidados médicos até que sua alma partisse.
Mas isso era o exato oposto.
Uma alma atingida em batalha sangrando tanto a um ponto em que seu corpo partisse.

Ao contrário da alma que não podemos ver, a despedida de Dahlia aconteceu em partes concretas conforme se despedaçava na frente de todos e se afastava do mundo. As pétalas da Flor sendo carregadas sem dó por uma rajada de vento forte.

Ainda olhando para Regina com doçura, retira seu colar. O espelho que servia como pingente e também um foco do véu vai ao chão. A culpa de não ter construído mais se esvai.
Um passo para trás, sem se virar, os olhares não se desviam. Regina com as mãos estendidas tentando alcançar sua amiga. As pontas dos dedos se cruzam por um instante. Dahlia segura um selo na mão e o derrama sobre o solo. O selo dos acordos quebrados, dos segredos guardados, das cartas lacradas cai pesado e abandonado.
Outro passo. Alguém precisa segurar Regina. A varinha forjada no arrependimento, na reclusão e introspecção não mais lhe representa ou pertence. Ela vai ao chão começando a definir um rastro de Dahlia por onde aquele corpo passava.
A trilha e a distância aumentam. Ela retira de um bolso um pêndulo, seu primeiro foco de magia. Agora o pêndulo da hipocrisia de quem troca de lado sem medir consequências será esquecido.
Já praticamente fora do círculo mágico, jogadas a terra se via as vestes que a cobriam com problemas que não eram seus e agora não pesam mais. Ela precisou retirar tudo que fosse Flor.
A Flor que desabrochou e cuja beleza deve ser mantida na memória apenas, assim como todo resto, jaz no chão.


Ela não estava vestida de Dahlia, nem de ninguém. Era ela verdadeira e pura. Livre.

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Última edição por Thaís em Seg Out 02, 2017 10:50 pm, editado 2 vez(es)
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Mensagem por Thaís Sáb Set 30, 2017 6:14 pm

Epílogo

Iparunu acordou aturdida. Vinha tendo relances confusos ao longo da noite. Viu Abril sentada no chão chorando. Não... parecia muito com Abril, mas não era. Foi ficando a par aos poucos do que estava acontecendo. Reclamava que estava sem seus adereços e que as conchas não paravam na cabeça. Identificou a maior parte do grupo que havia estado com ela recentemente, e talvez algumas pessoas de seus sonhos.
A coisa complicou quando surgiu Zafir, posteriormente Alatriste e Gula.
Lutaram contra a fome insaciável dele. Perdeu, voltou. Mas foram mesmo derrotados pelas palavras malévolas de Alatriste. O iluminado minou a vontade de cada um com seu veneno sonoro. Iparunu viu o que estava sendo feito, tentou alertar aos guerreiros, sacou sua própria espada mas também foi derrotada pelo seu defeito. O medo de desaparecer da existência ali foi maior do que a coragem de levantar espada sozinha contra aqueles seres.
Não adiantou, está calada desde então. Espero que tenha aprendido sua lição.
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